Divulgação: Instituto Matizes
Em meio às eleições mais importantes da nossa recente democracia, todas as atenções têm se voltado para a disputa eleitoral. Afinal, são inúmeros os desafios que enfrentamos nos últimos quatro anos. Até trouxemos em nossa edição anterior uma análise do cenário político para as pessoas LGBTI+ nos próximos anos - a partir das eleições de governador(a)s, deputado(a)s, senador(a)s e o novo presidente.
Mas, agora, queremos chamar sua atenção para outro assunto: a nova varíola (monkeypox). Nós, do Instituto Matizes, em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas e Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, além do apoio do Grupo Fleury, estamos mobilizando uma campanha inédita sobre a doença no Brasil.
A idealização da campanha surgiu a partir de desinformações que foram sendo geradas nos últimos meses a partir do material disponibilizado pelas organizações de saúde e mídia - o que tem gerado preconceito e hostilização contra as pessoas LGBTI+.
Consideramos como marco importante o momento em que a monkeypox passa a ser retratada como uma doença relacionada a "homens que fazem sexo com homens" . Por isso, nesta quarta-feira (26) lançaremos o relatório "A chegada da “Monkeypox” ao Brasil: mapeamento do impacto da nova varíola entre estigmas, incertezas e desafios para o enfrentamento de uma nova doença".
A pesquisa consistiu em mapear dados e informações sobre a doença na mídia, órgãos oficiais de saúde, especialistas médicos e movimentos sociais, e tem entre seus resultados, além do Relatório, também uma cartilha.
Mas, enquanto não lançamos oficialmente o relatório, trazemos alguns dos detalhes importantes da pesquisa - com exclusividade aqui na newsletter - para entender o cenário da Monkeypox aqui no Brasil.
A linha do tempo
Uma das perspectivas importantes que trazemos no relatório é o ponto em que o poxvírus se dissemina nos países europeus em maio deste ano. O período marca o início de investimentos em estudos e na difusão de informações sobre a monkeypox - o que também gerou críticas por parte dos países africanos, que têm se dedicado a estudos sobre a doença no continente, como o diretor do Centro Nigeriano para o Controle de Doenças, Ifedayo Adetifa.
Em 23 de maio, foi instaurada uma Sala de Situação de Monkeypox, direcionada para o monitoramento e investigação de casos pelo Ministério da Saúde. Embora o primeiro caso oficial só seja registrado no dia 30 do mesmo mês. De lá para cá, já são 8.978 casos em território nacional, como aponta o boletim epidemiológico da última sexta-feira (21 de outubro). O país é um dos 3 com mais casos no mundo, perdendo apenas para a Espanha e Estados Unidos.
Mas por que queremos chamar atenção para a doença?
Queremos chamar a atenção para a monkeypox, não apenas pelo número de casos da monkeypox no Brasil, como também por uma série de fatores que tem contribuído para a desinformação sobre a doença no país. Desde o mês de maio, tem sido disseminado que há uma "notável a proporção de casos identificados de “monkeypox” na população gay, bissexual e homens que fazem sexo com homens", como aponta nosso relatório. E isso nos fez produzir não só a pesquisa, como também mover uma campanha que reunisse as informações da comunidade científica mais atualizadas - até setembro de 2022.
E o encontro dessas informações partiu do nosso interesse em identificar quais as formas em que os veículos de comunicação abordaram e comunicaram sobre a doença de maio a setembro de 2022. Enquanto alguns meios propagaram estigmas em relação à doença e a população LGBTI+, instituições como o Instituto Butantan e a UNAIDS Brasil alertaram para o preconceito e desinformação ao associar a doença à orientações sexuais dissidentes.
Pessoas grávidas em foco
Além do cenário para as pessoas LGBTI+, em agosto o Ministério da Saúde publicou Nota Técnica sobre a “monkeypox” com relação a pessoas gestantes e puérperas, mas que pouco se sentiu efeito nos serviços de atenção básica de saúde - de acordo com o apanhado da pesquisa. A OMS reconhece, inclusive, a transmissão-fetal, como recomenda a nota técnica, mas há poucos estudos que mostrem se há uma gravidade maior nos sintomas para esse público.
E as vacinas?
No momento há duas vacinas disponíveis para a varíola, ACAM2000 e a JYNNEOS. Esta segunda está sendo aplicada nos Estados Unidos durante o atual surto, com aplicação em duas doses em intervalo de 28 dias. A cobertura e resposta imunológica inicial esperada em 14 dias após a primeira dose, de acordo com o nosso relatório. Embora não tenha uma vacina sendo aplicada no Brasil, o país recebeu o que se chama de "vírus-sementes" a partir da FioCruz e UFMG para o desenvolvimento de vacinas nacionais. Por sua vez, a fundação pode ter seus primeiros imunizantes até o fim do ano, segundo técnicos.
E o que podemos fazer no momento?
Nesta quarta-feira (26), realizaremos uma live no canal do YouTube do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, a partir das 17h, para debater o assunto. Estarão presentes Lucas Bulgarelli, Arthur Fontgaland, Anelise Fróes e Jade Soares pelo Instituto Matizes; Reinaldo Bulgarelli, pelo Fórum, e Anna Cunha pelo UNFPA, contando também com a participação de representantes do Grupo Fleury.
Você pode assistir à transmissão e também compartilhar os materiais que disponibilizaremos nas redes sociais. Contamos com você nessa caminhada!
Comments